Tata Amaral fala sobre seu trabalho paralelo como produtora, uma relação com o processo de realização que ela descreve como “de mãe para filho”
A paulistana Tata Amaral, uma das mais talentosas realizadoras do cinema brasileiro, já recebeu mais de 50 prêmios em festivais nacionais e internacionais. Seu trabalho despontou como parte da geração de curtas-metragistas dos anos 1980. Depois vieram os sucessos na direção de “Um Céu de Estrelas” (1996), premiado nos festivais de Brasília, Boston, Trieste, Créteil e Havana, “Através da Janela” (2000), que rendeu a Laura Cardoso os prêmios de melhor atriz nos festivais de Miami e Cine-PE (Recife), e “Antônia” (2006), seu terceiro longa. Como produtora, são mais de 10 trabalhos, incluindo longas e curtas ficcionais e documentais para o cinema e TV.
Em entrevista para a Academia Internacional de Cinema e Revista ZOOM, Tata Amaral conta como concilia seu trabalho de produtora, roteirista e diretora. Ela é uma das professoras convidadas do novo curso de Produção Executiva da Academia Internacional de Cinema, que começa em agosto. (A matéria completa está na última edição da revista ZOOM – n. 148.)
Você produziu vários dos seus filmes, desde os primeiros curtas-metragens. Como você vê o trabalho do diretor-produtor, como se dá o equilíbrio?
Embora sejam duas funções distintas, elas caminham em paralelo. No meu caso, eu sempre gostei de saber tudo que acontece com os filmes até porque a relação é de mãe para filho. Mesmo delegando funções dentro da equipe, afinal, ninguém consegue dar conta de tudo sozinho. Gosto sempre de participar de todos os processos do início ao fim, inclusive no lançamento em cinema e a vida do filme depois disso.
O que difere o trabalho de produção nos primeiros curtas-metragens do trabalho de produção em grandes títulos como “Antônia”? Como você vê sua trajetória sob o ponto de vista da produção?
Eu tanto me coloco na função de produtora como no de produtora executiva. Ou seja, eu gosto de pensar projetos, de realizar e esse é o ponto de vista de produção. Trabalhar com grandes títulos, como no caso do “Antônia”, que o filme teve coprodutores, acontece no momento que você precisa se aliar a outros profissionais para que tudo ocorra da melhor maneira possível. No caso do Antônia me aliei ao Roberto Moreira e a O2.
Você prefere produzir seus próprios filmes? Como funciona a dinâmica entre direção e produção em filmes como “Através da Janela”, produzido pelos irmãos Gullane, por exemplo?
No caso de “Através da Janela” foi a Gullane, no caso de “Antônia” foi a O2. Como eu disse anteriormente, temos que nos aliar para fazer o projeto crescer e acontecer. Eu também estava com o Alain Fresnot em “Através da Janela” e o trabalho ficou lindo.
Poderia falar dos seus trabalhos colaborativos com Jean-Claude Bernardet? Como é a relação entre realizadora e roteirista, e o que ele traz para os seus filmes?
Jean Claude é um dos maiores pensadores de cinema da atualidade, pensando em âmbito mundial. Minha relação com ele é quase que de pai para filha. Tivemos uma ligação muito forte inclusive quando fiz “O Rei do Carimã”, desvendando o passado do meu pai. A forma como o Jean Claude colabora não influi somente nos meus filmes, mas, no cinema nacional.
Quais são suas dicas para quem pretende começar a fazer filmes, dirigindo e produzindo?
Saber desapegar como diretor e agregar como produtor. Não tem regra clara, mas, a ideia é focar no trabalho e fazer tudo organizadamente e dimensionado, que assim, as coisas acontecem bem.
Quais as principais diferenças entre produzir para cinema e produzir para TV?
Quando se produz um conteúdo para televisão, já se tem um destino traçado, ou seja, sabe-se que ele tem um futuro certo em alguma janela. Quando se faz um filme para cinema, os cuidados artísticos são maiores em quase todos os casos, o numero de cópias, os transfers em 35mm, trailers, enfim, uma série de cuidados extras que não são necessários na TV.
Qual será o foco no curso de Produção Executiva da Academia Internacional de Cinema?
Quando a Laura, coordenadora do curso, me chamou para ministrar uma das aulas do curso, fiquei muito contente, pois tenho outros planos de cursos que poderia realizar dentro da AIC. No Curso de Produção Executiva vou falar sobre os meus trabalhos e abrir para um bate papo informal com os alunos. Quero transmitir e lhes contar um pouco da minha experiência.
*Foto: Ding Musa