“Mate-me Por Favor”, que ainda percorre os festivais e só será lançado comercialmente pela Imovision em abril, foi exibido no estúdio da AIC para uma plateia que não se acanhou mesmo com o temporal do fim de tarde.
Depois da exibição Anita contou um pouco de tudo. Começou falando sobre a ideia de ser atriz, a típica pressão familiar sobre a escolha da profissão, a entrada na faculdade de comunicação ainda com 17 anos, onde conheceu Cecília, que se tornou uma amiga inseparável.
Foi com a amiga Cecília que Anita fez o primeiro curso na área do audiovisual, estudaram documentário com João Moreira Salles e ali começou o interesse pelo cinema como profissão.
Cecília se suicidou, aos 19 anos e foi tentando achar explicações para a perda que Anita começou a pesquisar sobre suicídio e aos poucos, misturando realidade e ficção, construir a ideia dos seus filmes.
“Todos os meus filmes têm questões pessoais, trazem memorias afetivas. A violência, o desejo/medo da morte, a dinâmica da amizade feminina, a temática adolescente, o Rio de Janeiro. Nesse momento da carreira é importante para mim trabalhar com coisas que eu conheço, que estão próximas”, conta.
Depois de falar sobre os curtas, Anita contou sobre o processo de “Mate-me Por Favor”, o primeiro longa, que segundo ela é um reflexo sobre de sua geração e que também traz características da amiga na personagem principal, Bia, que flerta com a morte o tempo todo.
“O primeiro argumento, totalmente diferente do filme que assistiram hoje, começou a ser escrito em 2011, o primeiro roteiro ficou pronto em junho de 2012, depois disso o roteiro passou por um laboratório em Cannes e por uma consultoria, mudei muita coisa. Rodamos em fevereiro de 2014 e começamos a montar somente em setembro”, conta a diretora.
Anita respondeu às perguntas do público e contou curiosidades. Falou sobre sua paixão por David Lynch, sobre algumas referências como a diretora francesa Claire Denis e o fotógrafo Philip Lorca.
Também falou sobre a escolha de não trabalhar com personagens adultos – “queria construir um universo sem a figura do mentor”-, e sobre como ficou abalada com a morte da atriz Daniela Perez e como esse fato real se mistura na trama do filme.
Por fim, o tema machismo veio à tona e Anita mostrou que os conselhos dos professores da faculdade não a abalaram: “Escutei que mulheres deveriam trabalhar com montagem, já que era algo parecido com costura”, conta. Mas, para a nossa sorte, o brilho e o talento da menina-cineasta não puderam ser escondidos atrás de nenhuma moviola e estão por aí, ganhando prêmio e percorrendo festivais. Que seja o primeiro de muitos longas inspiradores.
*Fotos Karol Salldanha