Já pensou em dar vida para seres inanimados?
No mundo do audiovisual, existe uma técnica básica que dá movimento às imagens estáticas. E o nome dela é stop motion.
A partir do final de setembro, a AIC vai promover um rápido curso noturno para ensinar esta linguagem (clique no link curso para acessar a página com mais informações), mostrando como ela acontece na teoria e na prática!
As aulas serão dadas pela cineasta e artista plástica Natália Machiaveli (clique no nome para ver o perfil da professora).
SOBRE O STOP MOTION
A ideia parte do princípio de que ao colocar na montagem quadro a quadro, fotografias em sequência, ganha-se o poder de dar vida a objetos inanimados. O efeito acontece graças ao chamado fenômeno da persistência retiniana, que nos dá a ilusão de a imagem produzir um movimento contínuo durante a história.
As origens do stop motion remontam ao mágico francês George Meliés, que adaptou seu trabalho de ilusionismo para o cinema, tornando-se responsável pelas primeira animação usada num filme, o clássico e pioneiro curta “Viagem à Lua”, de 1902 (clique aqui para assistir).
A partir de então, a linguagem que nasceu de forma simples e rudimentar, ganhou cada vez mais espaço no mundo audiovisual.
Com o passar do tempo e o desenvolvimento tecnológico, as produções de animação ganharam muitos recursos, graças à incorporação de novas técnicas trazidas pela realidade digital. O uso maciço da computação gráfica na produção de filmes, nos últimos 25 anos, criou um mercado para além do cinema, invadindo áreas como a publicidade, videoclipes etc. Por outro lado, mais recentemente com a popularização das câmeras digitais e o crescente acesso à web, as formas de produção e veiculação deste formato estão acessíveis a qualquer um.
Pensando no interesse cada vez maior sobre o mundo da animação, a partir de sua técnica mais básica, surgiu o novo curso de stop motion da AIC: uma excelente maneira de aprender, na prática, todas as etapas de produção de um filme – da criação do roteiro à escolha dos personagens, cenários, fotografia, montagem e finalização de uma história audiovisual. Não esquecendo, é claro, da utilização da mecânica usada em diferentes tipos de animação.
A ENTREVISTA
AIC – Como será o conteúdo do novo curso? Para quem ele foi pensado?
Natália Machiaveli: O conteúdo do curso começa pela técnica básica da mecânica de movimento de animação (que é a mesma teoria para todos os tipos de animação). Depois da teoria, pretendo passar o conteúdo de forma prática. Vamos criar um filme de 1 a 2 minutos (lembrando que cada segundo de filme exige ao menos 12 fotos), para isso vamos discutir as ideias, fabricar os objetos a serem manipulados, produzir o set de gravação e animar! Durante o processo é que surgem as dificuldades técnicas e vamos pontuando as questões a medida que elas aparecem. Em princípio, pensamos num público formado por jovens acima dos 14 anos e adultos de todas as idades, que sejam pessoas interessadas em cinema e arte, com ideias, questões e vontade de produzir.
AIC – É preciso ter experiência anterior ou mesmo equipamento próprio?
N.M.: Alguns alunos já vêm com experiência em fotografia, ou em iluminação, em direção, em roteiro, todas essas são partes importantes ao produzir um filme e irão somar certamente. Mas não é um requisito que o aluno tenha experiência, mesmo porque acredito que esta oficina seja uma ótima porta de entrada ao cinema assim como à animação. Quanto ao equipamento, é preciso ter uma câmera fotográfica e de preferência um tripé.
AIC – Fale um pouco sobre o seu processo de trabalho e como o stop motion se encaixa no seu perfil, que inclui formação em música e artes plásticas.
N.M.: Sempre fui muito interessada em diferentes mídias da arte. Desde menina estudei música, artes plásticas, poesia, atuação, e mais tarde, na academia de arte, o audiovisual. Nunca deixei de praticar nenhuma delas e o stop motion apareceu naturalmente da mistura de todas estas técnicas. Era uma maneira de pensar em grandes produções, mas que podiam ser executadas em pequena escala. Uma técnica na qual podia usar minhas habilidades plásticas manuais, pensando na fotografia para vídeo.
Dar vida a objetos que eu fabrico é uma delícia! Muitas vezes componho as trilhas sonoras dos filmes antes de começar a animação. A música sempre me inspira. Quando criei a oficina foi também pensando nas possibilidades que decorrem de aprender uma técnica de animação mais manual. É um fazer da animação mais próximo ao cinema, por ser físico. É preciso pensar na câmera, posicioná-la e calcular seu movimento, pensar em iluminação, cenário, manipular os objetos.
Gosto muito de fazer animação, mas tenho curtido também passar a técnica pra frente e observar como as diferentes mentes criativas que participam do meu curso a desenvolvem.
AIC – A aplicação da linguagem do stop motion pode ser usada em muitas mídias diferentes hoje em dia, né?
N.M.: Sem dúvida. A web é uma plataforma incrível, nela se pode ver e divulgar muita coisa. Há muitos festivais de animação inclusive acontecendo virtualmente. Alguns deles sequer existem fora da internet. Há também muitos vídeos publicitários circulando na web e na TV que fazem uso de animação stop motion. Muitos vídeo clips também. Na TV, animações atuais ,como Pingu entre outras, são gravadas inteiramente em stop motion.
AIC – Qual sua principal referência, o que te inspira no mundo da animação?
N.M. – Para mim os mestres russos da animação foram sempre uma grande fonte de inspiração. Tem quatro DVDs que têm animações produzidas entre 1960 e 1990. A técnica mais antiga também é bastante ousada. No quisito estético, minha linha é bastante diferente, inspirada em diversas outras referências, mas gosto da maneira como eles utilizavam os materiais para falar algo sobre o conteúdo da animação. Vão aí alguns exemplos, mas é muito difícil encontrá-los online, assim, passo apenas os três que encontrei. São eles:
AIC – Você poderia passar algumas outras referências, mais de mercado, de stop motion que considera bacanas?
N.M.: Claro! Na questão do uso do stop motion em publicidade, este vídeo é um bom exemplo:
Há também os clássicos de TV, como “Wallace & Gromit”, que resistem ao tempo por sua qualidade artística.
No âmbito do cinema, acredito que o filme “Fuga das Galinhas” tenha tido um importante papel em trazer de volta o stop motion para as telonas.
Uma modalidade bem interessante de stop motion é aquele que interage com o espaço, como esta pintada nas paredes da cidade, do artista Blu.
Não se esqueça, as inscrições já estão abertas!
O curso de stop motion da AIC começa no dia 30 de setembro.
Saiba mais aqui.
Créditos:
Reportagem e edição: Paulo Castilho.
Fotos e vídeos: AIC, aquivo pessoal e internet.