Dona de uma carreira frutífera, que se estendeu por décadas, e responsável por influenciar fortemente o cinema mundial, Agnès Varda deixou saudade quando faleceu em março de 2019, aos 90 anos. Mas o que fez com que a cineasta, nascida na Bélgica, tenha marcado tanto a sétima arte?
Uma das principais referências da Nouvelle Vague francesa, Agnès permaneceu em atividade por toda a sua vida — o último filme da diretora, Varda por Agnès, foi lançado em 2019 e serviu como uma tocante despedida.
Neste post, você vai conhecer as principais características da filmografia de Agnès e saber mais sobre o legado deixado por ela. Acompanhe!
Uma forte voz feminina no cinema europeu
Desde o início de sua carreira, na década de 50, Agnès Varda tratou com força e talento de temas da luta feminista — como no documentário em curta-metragem Resposta das Mulheres: Nosso Corpo, Nosso Sexo, de 1975 — e também do movimento negro.
Lançado em 1968, o documentário em curta-metragem Os Panteras Negras não apenas é um dos mais importante realizado por Agnès dentro do gênero, mas um dos documentários mais relevantes da história do cinema. A obra traz imagens filmadas durante debates de conscientização promovidos por um dos líderes do movimento Panteras Negras dos Estados Unidos, Huey Newton.
Mesmo no âmbito da ficção, Agnès centrou seu cinema em protagonistas femininas das mais diversas, visando retratar o cotidiano das mulheres por meio de seu estilo quase experimental. Dentre elas, a mais icônica é Cleo — personagem-título de Cleo das 5 às 7, obra mais celebrada de Agnès.
O cinema livre de Agnès Varda
Agnès costumava dizer que, para ela, a câmera era como uma caneta, com a qual ela “escrevia” a obra cinematográfica. Profundamente envolvida em todos os processos de produção, dos cenários à montagem, Agnès tinha um jeito peculiar de contar suas histórias.
Ao longo de sua carreira, a cineasta mostrou-se particularmente interessada em personagens marginalizados e rejeitados pela sociedade — e adotava um estilo documental de filmar mesmo em suas obras de ficção.
Isso tudo contribuía para a criação de uma autenticidade, uma crueza que faz com que seus filmes e os personagens que neles habitam pareçam viver suas vidas na frente do espectador.
A influência da fotografia
Antes de começar a fazer filmes, Agnès trabalhava como fotógrafa — e isso certamente teve grande impacto em seus curtas e longas-metragens. Não é raro que imagens estáticas apareçam nos filmes da diretora, atuando tanto como elementos puramente simbólicos quanto efetivamente moldando a narrativa. Às vezes, ela chega até mesmo a mesclar imagens estáticas com imagens em movimento.
Consciente da importância do cinema como ferramenta histórica, Agnès trabalhou com afinco para a preservação das obras de seu marido, o influente cineasta francês Jacques Demy. Os dois se casaram em 1962 e permaneceram juntos até 1990, quando Jacque faleceu — deixando como legado obras icônicas, como Os Guarda-Chuvas do Amor e Duas Garotas Românticas.
Um ano depois da morte do esposo, Agnès lançou o longa-metragem Jacquot de Nantes, que ficcionaliza a infância de Jacques. Em 1995, ela produziu o documentário O Universo de Jacques Demy, que traz os melhores momentos dos filmes do diretor.
Ao longo de toda a sua vida, Agnès Varda construiu uma carreira inesquecível e deixou diversos marcos na história do cinema — seja por meio de suas obras políticas e de suas marcantes personagens femininas, seja por seu trabalho de preservação da sétima arte.
Agora que você entende um pouco mais por que ela se tornou tão influente, não deixe de conferir a filmografia completa de Agnès! E, para conhecer mais cineastas marcantes, siga as páginas da Academia Internacional de Cinema no Instagram, no YouTube e no Facebook.