Academia Internacional de Cinema (AIC)

Adrian Teijido revela fascínio por filmar “Ainda Estou Aqui” com película

adrian teijido
“Não esperava ter tanta gente aqui”, disse o diretor de fotografia Adrian Teijido diante de uma plateia de 150 pessoas no último dia da Semana de Orientação da Academia Internacional de Cinema (AIC).

O evento que abre o ano letivo da AIC começou no último dia 17 com a presença do ator Antonio Saboia, deu sequência, em 18/2, com a participação da também cineasta Sabrina Fidalgo, e seguiu em 19 com a diretora e roteirista Viviane Ferreira. O encerramento foi no dia 20 de fevereiro com o cineasta responsável pela cinematografia do filme “Ainda Estou Aqui”.

Apesar da euforia em torno da nova obra de Walter Salles, o primeiro assunto da conversa foi o trabalho de Teijido atrás das lentes e da iluminação de “O Rio do Desejo”. Dirigido por Sérgio Machado, o longa é baseado no conto “O Adeus do Comandante”, de Milton Hatoum, que, segundo Teijido, criou mais histórias para que o roteiro acontecesse.

O regionalismo da literatura de Hatoum o fez buscar por referências surrealistas na composição da cinematografia do filme. O insight veio quando visitou pela primeira vez o lugar onde a produção foi rodada, em Itacoatira, no Amazonas. “Eu fui fotografando aleatoriamente para entender o cenário e contexto, por lá ter um contraste bonito entre o por do sol e as luzes frias, o quente e o frio, a relação com o vermelho, as texturas, a luz magenta. A mistura existia naturalmente e eu comecei a achar interessante a conexão com o realismo fantástico”, conceitua, ao mesmo tempo em que mostra diversas imagens do filme para a plateia.

Sobre a forma de retratar tecnicamente, diz ter sido econômico. “Quando você filma na região norte, o caminhão não chega e você precisa transportar tudo por avião. Logo, eu não podia levar muito equipamento. Levei pouca luz e uma Alexa-Mini”. Por falar em economia, Teijido é favor do “menos é mais”. “Não gosto de entrar em um set com um monte de refletores. Gosto mesmo é de oferecer liberdade para o diretor e os atores”.

Ainda sobre as influências, Teijido também bebeu na fonte da fotografia do cineasta Wong Kar Wai e disse que costuma anotar as emoções dos personagens, como felicidade, medo, ciúmes, amor e incômodo. “O diretor de fotografia não é só um iluminador, é um contador de história visual”.

A textura do grão em Ainda Estou Aqui

Acostumado a filmar no digital, Teijido não rodava em película desde “Gonzaguinha: de Pai para Filho”, filme de 2012. Foi o próprio Walter Salles que exigiu fazer “Ainda Estou Aqui” em 35 milímetros. “Eu não tenho preferência, mas acho que a textura do grão, analógica, se aproxima mais da visão humana, o que foi super adequado para o filme”. E o cineasta foi além na busca pela estética da película: “Eu não só quis usar o grão como elemento narrativo, como também eu fui buscá-lo algumas vezes. Por exemplo, ao filmar na praia com 500 asas e, na pós-produção, elevar para mil, para dar mais ênfase”. Quanto maior o número de asas – classificado como ISO na fotografia -, mais sensível o sensor da câmera é à luz. E mesmo assim, ele optou pelo risco.

Outro exemplo da insistência por essa estética foi quando Walter quis colocar um câmera de 35mm no mar. “Foi uma loucura. A gente colocou o equipamento em um caixa estanque e fomos pro mar. Eu falei pro Walter que dava pra captar com câmera digital, com segurança, e depois buscar a textura na pós, mas ele pediu pra seguirmos”, disse aos risos.

Trabalho com atores diretores

Teijido revelou por diversas vezes na conversa com o público sua admiração pelo trabalho dos atores e atrizes. Revelou também sempre ser aberto para qualquer tipo de troca, mesmo ele não sendo um diretor de cena. Talvez esta conexão o gabaritou a trabalhar como diretor de fotografia de três grandes atores brasileiros: Selton Mello, que dirigiu “O Palhaço”, Lázaro Ramos, em “Medida Provisória”, e Wagner Moura, em “Marighella”.

“Selton é o cara que mais se aprofunda na técnica. Fala sobre planos, pede coisas específicas e técnicas. O Wagner é o mais sensorial. Trabalhar com ele é emoção a flor da pele o tempo todo. Além disso, gosta de trabalhar cronologicamente como está no roteiro. O Lázaro é muito audiovisual, ele vê muita série, boa, ruim, de super-herói, não importa. E sempre dirige o ator do jeito que ele quer. Os três são fascinantes”, conclui.

Referências

Sempre preocupado em mostrar na prática o que desenvolve na técnica, Adrian conta onde busca suas referências. “Exposições, filmes, séries, fotos, stills, além de gostar de assistir filmes fotografando os frames”. Compartilhou também dois sites que usa como fontes de pesquisa: Filmgrab e Shotdeck. “No último, você digita ‘anos 80, exterior, noite’ e ele mostra frames com as referências”.

Adrian nasceu em Buenos Aires e se naturalizou brasileiro. É um diretor de fotografia de grandes sucessos do cinema nacional: Ainda Estou Aqui (Walter Salles), Rio do Desejo (Sergio Machado), Marighella (Wagner Moura), O Palhaço (Selton Mello), Gonzaga de Pai para Filho (Breno Silveira), Elis (Hugo Prata), Narcos, para ficar em alguns. Recebeu diversos prêmios, incluindo o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e o Prêmio ABC de Cinematografia.

Texto Guilherme Mariano 
Foto Raissa Nashla
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