Abel Vargas, ex-aluno da AIC, trabalha com VFX em Vancouver
Um jovem de 19 anos deixa Goiânia rumo a Curitiba (onde ficava a sede da Academia Internacional de Cinema, antes de abrir as portas em São Paulo), para fazer parte da primeira turma do FilmWorks. O curso marcou o início da carreira de Abel Vargas, que hoje atua como lighter/compositor em Vancouver, no Canadá. “Eu não só era um dos mais novos da turma, como fui a primeira matrícula da AIC! Minha carteirinha lia 001. Isso já mostra o meu nível de empolgação com cinema, não é?”, conta.
Abel lembra que, na época em que cursou o FilmWorks, esse tipo de formação profissional era algo inédito no Brasil, por isso ele agarrou a oportunidade. “O que a AIC me permitiu, inicialmente, foi pular toda a burocracia e depressão do sistema de vestibular e entrar em uma instituição baseada em experiência prática, no modelo das escolas que eu sonhava em estudar, na época. Acho que valeu a pena ter logo essa experiência e ver se era algo que poderia seguir para a vida toda”, ressalta. “Outro ponto importante é a valorização da técnica. É muito difícil ser um roteirista ou diretor que não tem domínio das ferramentas, seja a câmera ou o computador na hora da edição. Quem sabe fazer, de verdade, tem soluções práticas que enriquecem o produto final. Eu achava que a direção era o único caminho e acabei estudando roteiro, edição e fotografia, nos semestres que seguiram”.
A jornada de Abel foi longa, para chegar até Vancouver. “Eu trabalhei como fotógrafo, morei na Europa, abri uma produtora com amigos da AIC em São Paulo e, depois de dois anos trabalhando com publicidade, resolvi largar tudo e vir estudar na Vancouver Film School”. Como o foco de sua produtora estava na pós-produção, ele optou por investir nisso. “Eu decidi que queria trabalhar no tipo de filmes que me influenciaram a estudar cinema, lá atrás, em 2004. Nessa busca, vim estudar, arrumei um emprego e fui evoluindo na carreira de VFX”.
Com tanta experiência na área, Abel passou a conhecer muito bem as oportunidades do mercado, principalmente da indústria hollywoodiana. “Hollywood não está produzindo menos filmes e, cada vez mais, depende da pós-produção. Hoje em dia, tenho muito conforto profissional de ir de uma produção a outra sem sofrer com períodos de desemprego. Quanto mais experiência, mais querem te contratar, então lentamente fui criando esse ciclo virtuoso. Ainda tem espaço para muita gente e todo dia respondo alguma dúvida nas redes sociais sobre a indústria ou como chegar onde estou”, comenta.
Para difundir no Brasil todo o conhecimento adquirido ao longo de mais de dez anos como profissional de efeitos visuais, recentemente Abel criou o projeto VFX Pro. No site do projeto é possível baixar um e-book grátis, explicando as diversas áreas envolvidas na criação de efeitos visuais e mostrando o que fazer para trabalhar em grandes produções. “Eu gravo vídeos respondendo perguntas que chegam frequentemente e tento manter tudo em dia. Não é fácil, mas acredito que pode dar oportunidades a outras pessoas de seguirem essa carreira ou de fazerem um upgrade no tipo de projeto em que já trabalham. Coisas que eu gostaria de saber anos atrás, mas que ninguém havia explicado com esse nível de dedicação e detalhe”, destaca.
O esforço e a dedicação profissional certamente geraram bons frutos para Abel. No ano passado, ele esteve envolvido nos efeitos visuais de filmes como Pantera Negra/Black Panther (primeiro longa de super-heróis indicado ao Oscar de melhor filme), Pé Pequeno/Smallfoot e Homem-Aranha no Aranhaverso/ Spider-Man: Into the Spider-Verse (vencedor do Oscar de melhor animação). “Eu comecei fazendo séries de televisão. Foi um árduo caminho até me profissionalizar e passar para longa-metragem. Só digo que vale a pena”, afirma. “No Velozes e Furiosos 8/The Fate of the Furious, passei 5 meses trabalhando em 5 cenas (shots). Imagina só: 15 segundos no total, 5 meses de trabalho. Cada quadro (frame) foi feito à mão. O nível de detalhe que nós colocamos aqui não se encontra em lugar nenhum e eu amo poder realizar trabalhos desse nível”.
Os projetos para o futuro são diversos. “Começo a trabalhar no longa de animação da família Adams daqui a uma semana e fico nessa produção até agosto ou setembro. Em paralelo, tenho uma empresa de pesquisa e desenvolvimento chamada Blue Fairy (). Nós desenvolvemos ferramentas para efeitos visuais com inteligência artificial”, explica Abel.
Para quem está ingressando agora nos estudos cinematográficos, o ex-aluno da AIC tem alguns conselhos: “Eu adoro a indústria do cinema e continuo trabalhando para que ela seja melhor, mas não é fácil entrar e ter uma carreira nesse meio. De todos os meus colegas da AIC e da VFS, apenas os mais dedicados estão trabalhando na indústria, então se dedique à sua arte. Seja nerd. E, finalmente, essa é uma arte coletiva. Aprenda a trabalhar em equipe, independentemente do tipo de cinema que você quer fazer”.
*Texto de Katia Kreutz e fotos divulgação