A possível e bela experiência de estudar cinema a distância
Em 1969, o então estudante de cinema Steven Spielberg abandonou os estudos na California State University, Long Beach, para se dedicar à produção de seu primeiro curta-metragem. Mais de 30 anos depois, já consagrado como diretor e vencedor de diversos Oscars, ele finalmente conseguiu seu diploma de Bacharel em Artes graças ao ensino a distância. Spielberg completou seu curso por meio de trabalhos escritos, estudos independentes e a submissão de um filme: o premiado A Lista de Schindler. “Eu desejei conquistar isso por muitos anos como um agradecimento aos meus pais, por me darem a oportunidade de ter uma educação e uma carreira, e como um lembrete à minha própria família – e aos jovens em todos os lugares – sobre a importância de realizar seus objetivos acadêmicos”, declarou o cineasta.
Assim como Spielberg, o ator, fisiculturista e ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger também conseguiu completar sua graduação por meio da educação a distância. Nascido na Áustria, ele ganhou fama em Hollywood com os filmes Conan, o Bárbaro e O Exterminador do Futuro. Depois de estudar inglês no Santa Monica College, seu bacharelado foi realizado através de um curso por correspondência pela University of Wisconsin–Superior, em marketing internacional e administração.
Nos dias de hoje, a internet tornou o ensino a distância uma forma de aprendizado cada vez mais fácil, versátil e dinâmica. Embora ainda exista alguma resistência no Brasil para esse tipo de educação, o cenário tem se ampliado no mesmo passo em que a tecnologia avança.
Esse movimento acontece também na área audiovisual, envolvendo um forte componente prático. A Academia Internacional de Cinema (AIC) foi a primeira escola audiovisual a mergulhar no ensino a distância – e com entusiasmo. “Olhamos para as particularidades de cada disciplina e desenvolvemos um currículo sob medida, construído de forma a potencializar os aspectos práticos de cada curso, refletindo sempre a metodologia hands on que é a marca registrada da AIC”, diz Steven Richter, fundador e diretor de desenvolvimento da AIC.
Os diferenciais dos cursos online oferecidos pela AIC estão certamente nas aulas ao vivo, com professores que atuam do mercado, além da possibilidade de interação com pessoas das mais diversas partes do país – e até do mundo.
Trata-se de uma nova alternativa, bastante flexível, para os aspirantes a cineastas que não podem participar dos cursos presenciais. A intenção não é de substituir uma modalidade de ensino pela outra, mas de que as possibilidades de formação para futuros cineastas sejam ampliadas, aproveitando cada vez mais os avanços tecnológicos na área audiovisual. A relação entre aluno e professor continua existindo, ainda que de forma virtual. Basta que o estudante tenha um computador com acesso à internet, podendo conferir os conteúdos conforme sua própria conveniência. No entanto, é preciso ter disciplina e dedicação, já que estudar longe de uma sala de aula permite maiores distrações e a vontade de aprender depende unicamente do aluno.
Entre os cursos disponíveis atualmente no site da AIC estão:
- Roteiro
- Produção
- Produção Executiva
- Som para Cinema e TV
- Edição
- Documentário
- História do Cinema
- Assistência de Direção
- Direção
- Criação e Produção para TV
- Cinema
- Direção de Fotografia
ENTREVISTA: Steven Richter
O diretor de desenvolvimento e fundador da AIC fala sobre as novas possibilidades e as particularidades do estudo audiovisual a distância no Brasil e no mundo.
AIC: Por que vocês decidiram criar os cursos online na AIC?
Steven Richter: Tenho pesquisado escolas online por um bom tempo, observando como elas evoluem, e pensei como o ensino a distância seria perfeito para a AIC, porque podemos começar a alcançar pessoas de todo o país, e até do mundo, com formação audiovisual de qualidade. Temos em nossos programas alunos do Brasil inteiro e também dos Estados Unidos, Portugal, Alemanha e outros países. Isso realmente nivela o campo em termos de educação. Estamos prestes a abrir uma escola “irmã” da AIC nos Estados Unidos, chamada International Academy of Film & Arts. A maior parte das aulas, no início, será online. Mas o que mais me empolga é a criação de uma escola verdadeiramente internacional, em que os professores vêm de todas as partes do mundo e compartilham sua experiência e conhecimento com os alunos, que também são do mundo todo. A ideia é trazer estilos cinematográficos de pessoas de diferentes lugares, com novas perspectivas.
AIC: Algumas pessoas têm a impressão de que o ensino à distância não é tão bom quanto aulas presenciais. Nesse sentido, o que você diria que é o diferencial dos cursos da AIC?
S.R.: Essa era uma tendência de pensamento que existia inicialmente, também nos Estados Unidos, mas agora todas as principais universidades do mundo possuem cursos online – Harvard, Stanford, USC, etc. A internet está se tornando uma escolha para muitas pessoas que vivem longe de uma escola de cinema, que trabalham e precisam conciliar sua vida profissional com os estudos, ou aquelas que simplesmente preferem estudar no conforto de suas casas, podendo determinar quando querem realizar seus estudos, sem ter que obedecer a um cronograma estabelecido. Na AIC, a maioria de nossos programas são ao vivo. Temos um cronograma, mas as aulas também são gravadas para os alunos que não puderem ver naquele dia, então é extremamente flexível. Acho que há muitos benefícios pedagógicos em estudar online. Tudo é gravado, por isso você pode assistir quantas vezes quiser. As questões dos seus colegas ficam registradas na plataforma da turma; assim, se você esquecer, elas estão ali nos fóruns e nas perguntas ao professor. Vejo muitos cursos online usando aulas pré-gravadas, mas a maioria dos nossos a cursos distância são ao vivo, porque acreditamos que essa é uma forma de preservar o ambiente criativo da sala de aula e incentivar a comunicação. Tentamos tornar a experiência a mais interativa e dinâmica possível, com os professores interagindo em tempo real, respondendo às perguntas e dando feedback como dariam pessoalmente. Há interação até mesmo entre os alunos, o que torna nossas salas de aula virtuais tão próximas da realidade.
AIC: Você acredita que o cinema seja um campo de trabalho mais fácil para o aprendizado a distância, uma vez que ele já envolve tecnologia e conteúdo audiovisual?
S.R.: Há vantagens óbvias em aprender cinema de forma presencial, mas também há inúmeros benefícios para o aprendizado online. Eu acredito (assim como está acontecendo nos Estados Unidos atualmente) que surgirão muitas maneiras híbridas de aprender, tanto estudos online quanto presencialmente. O que é importante é que você pode receber uma educação de qualidade em cinema, de qualquer lugar – seja no bairro paulistano de Itaim, estudando em um café em Ipanema, fazendo um curso de Floripa ou Lisboa, ou mesmo em Los Angeles. É o que está acontecendo agora. Isso está aproximando as pessoas e eu não poderia estar mais animado.
ENTREVISTA: Martin Eikmeier
O coordenador acadêmico da AIC fala sobre como visão criativa e tecnologia quebram tabus e transformam o cenário do ensino de cinema a distância.
AIC: O que levou a AIC a criar os cursos online?
Martin Eikmeier: Observamos uma enorme representação de alunos de outros estados (fora de São Paulo e Rio de Janeiro) nos nossos cursos de férias. Também recebemos com muita frequência convites de instituições em outros estados, para formar parcerias e oferecer cursos nesse formato prático no qual a escola aposta. Ainda que existam universidades e faculdades de cinema em muitos lugares, a AIC foi a primeira escola no Brasil a oferecer cursos com profissionais atuantes no mercado de trabalho, especializados em uma área específica do cinema. Essa composição de profissionais, assim como toda a pedagogia que desenhamos e repensamos todos os dias, muda por completo a maneira pela qual se dá a formação. O que está em jogo é a experiência sempre atual, real e concreta de como funciona o mercado de trabalho no cinema. Ao considerar esses fatores, procuramos imaginar como poderíamos traduzir a nossa lógica pedagógica para o universo online. Isso nos permitiria ter o alcance que estava sendo demandado da escola, mas que, por questões físicas, era menos possível do que desejaríamos. A única aposta que nos pareceu possível foi encontrar estratégias dentro do ensino a distância em que os alunos tivessem, em primeiro lugar, um contato real com os professores; não apenas uma aula gravada, mas uma ferramenta que permitisse a vivência mais próxima de uma sala de aula. Em segundo lugar, que fosse possível a esses alunos colaborarem entre si, tal como acontece no trabalho em um filme. Encontramos a ferramenta ideal para esse fim, depois de tatear entre várias possibilidades. Hoje, temos um curso online em que as aulas são ao vivo, os alunos se veem, colaboram entre si e realizam tarefas que são examinadas pelos professores e tutores. Um dos pilares da escola, a integração, também foi reproduzido no ambiente online. Já tivemos, por exemplo, um aluno do curso de Som, realizando a edição de som de um curta-metragem da turma do último semestre do FilmWorks – ele em Porto Alegre, os diretores em São Paulo.
AIC: Muitas pessoas olham o ensino à distância com desconfiança, considerando-o menos abrangente do que as aulas presenciais. O que você responderia para esse público?
M.E.: São coisas diferentes, não há dúvida quanto a isso. Mas não significa que um ensino seja melhor ou pior, apenas diferente. Hoje, digo com tranquilidade que existem dinâmicas de um curso presencial que são impossíveis de serem reproduzidas no ambiente virtual. Mas também podemos afirmar o oposto: temos dinâmicas no ambiente virtual que são impossíveis de serem reproduzidas presencialmente. A AIC entrou com tudo nessa história e temos várias pessoas pensando juntas as soluções mais modernas que existem no universo EAD para nosso ambiente virtual. O aluno com certeza vai encontrar uma experiência surpreendente com nossos cursos.
AIC: Você acredita que o cinema, por envolver tecnologia e conteúdo audiovisual, é uma área em que o ensino online se aplica bem?
M.E.: Sim, perfeitamente bem. Como é uma área que se realiza sempre numa perspectiva coletiva – ou seja, cinema precisa de muita gente junta para dar certo – é natural que as pessoas julguem o ambiente online inadequado, já que boa parte das nossas interações com esse universo se dão de forma individual. Mas, atualmente, temos ferramentas que permitem um nível surpreendente de integração, não apenas no ensino, mas também em experiências de entretenimento. O conhecimento nasce de desafios práticos, em que a integração e a colaboração são fundamentais. Isso porque, no mundo do trabalho em audiovisual, integrar e colaborar é uma prerrogativa fundamental.
No ambiente online, tudo se resume à ferramenta correta. Atualmente, trabalhamos com uma plataforma de LMS, com recursos bastante avançados nesse sentido. Temos uma sala virtual, na qual professores e alunos se encontram em tempo real. Diferente de aulas ao vivo em streaming, nessa plataforma os alunos interagem por si próprios com vídeo e áudio, além de poderem interagir com texto. É possível compartilhar arquivos e desenhar sobre esses arquivos. Também é possível dividir a sala virtual em grupos de alunos, para trabalhos integrados. O professor tem acesso a cada um desses grupos, podendo interagir com o trabalho de cada aluno. Outra possibilidade é deixar vídeo e áudio liberados para todos, o que pode ser feito a pedido do aluno, clicando em um ícone que simula a mão levantada em uma sala de aula real. O professor pode ainda mostrar telas de seu computador e ter acesso a um quadro branco para escrever ou desenhar, como em uma lousa de verdade. É o que há de mais próximo a uma sala de aula real.
*Por Katia Kreutz