Ex-aluna cria série “Contos Da Rua” e consegue patrocínio da FIAT
Será possível contar uma história apenas com palavras e imagens achadas na rua? Sim. Segundo a ex-aluna Juliana Bartorilla, que fez o curso de Documentário da Academia Internacional de Cinema (AIC), “a rua nos conta histórias todos os dias, mas, a gente nunca tem tempo e olhos atentos para ouvi-las”. Foi a partir dessa ideia original que surgiu o conceito do projeto “Contos da Rua”.
Tudo começou quando Juliana, o marido Adriano Matos e o amigo Murilo Melo, resolveram “caçar” palavras pelas ruas e, em 5 meses, juntaram mais de 700 palavras escritas na rua e centenas de imagens, a partir daí, viram que sim, era possível criar um roteiro e contar uma história. Com isso, fizeram um filme piloto e apresentaram para a FIAT, que tem como slogan “quem mais entende de rua”. “A ideia deu tão certo que eles se dispuseram a pagar um incentivo de custo para viabilizar mais filmes. Conseguimos convidar outros diretores para codirigir os curtas e dessa forma, criamos a série”, conta Juliana.
Trilha Sonora de Antônio Pinto
Se já não bastasse a ideia genial e o patrocínio de uma grande marca, eles ainda conseguiram a parceria de Antônio Pinto para compor
algumas das trilhas da série. Antônio Pinto é compositor de trilhas sonoras de grandes filmes nacionais, como “Cidade de Deus” (2002), “Cidade dos Homens” (2007), “Lula, o Filho do Brasil” (2010) e “Vips” (2010). Filho do cartunista Ziraldo, também tem importantes trabalhos internacionais no currículo, como a música do longa “Colateral”, do diretor Michael Mann, protagonizado por Tom Cruise. (Assista a entrevista de Antônio Pinto no Programa do Jô aqui.) “Quando apresentamos o projeto ele amou a ideia e topou na hora”, conta Juliana.
As Histórias e A Entrevista
Por enquanto são quatro histórias com linguagens e pontos de vista diferentes, que podem ser assistidos no canal do You Tube da FIAT. Os roteiros são de Juliana, em parceria com Murilo e Adriano, e os diretores foram convidados. “A liberdade criativa de cada um fez cada história ganhar um corpo e uma linguagem única”, conta. Em entrevista para a comunicação da AIC, a ex-aluna Juliana Bartorilla, que tem 28 anos e é publicitária de formação, conta que sempre gostou muito de cinema e fala mais sobre o projeto e como tudo aconteceu. Confira as curiosidades, a sinopse de cada um dos filmes e não deixe de assistir aos episódios.
AIC – Como surgiu a ideia do projeto?
Juliana Bartorilla: Meu marido, um amigo e eu criamos um grupo para fazer um filme. A princípio batizamos de JAM (Juliana, Adriano e Murilo). Tudo começou quando nos perguntamos se era possível contar uma história usando apenas coisas da rua. A sinopse da história a gente já tinha e a partir disso começamos a viver um “safari”. Deu muito trabalho, muito mesmo. Cada canto da rua tinha alguma coisa muito interessante que a gente não podia perder e no processo encontramos vários elementos da narrativa que não havíamos concebido previamente. E assim, percebemos que a rua também estava sendo a roteirista do projeto. Foi assim que “Contos da Rua” nasceu.
AIC – Conte um pouquinho sobre cada um dos quatro filmes.
J.B.: “O Amor desvia a Alma” é baseado num fato real. Construímos o enredo de um homem que se apaixona por uma mulher e não sabe que ela é uma prostituta. A rua deu aos personagens uma profissão, idade e um lugar para se encontrar pela primeira vez. As falas também apareciam conforme a gente construía o conflito entre os dois.
“Aqui se faz, aqui se paga” partiu da frase “por que o senhor atirou em mim?” Foi assim que idealizamos um assaltante que aborda uma pessoa na rua e paga por seu crime. Nesse conto, os efeitos sonoros e as imagens deram corpo para a história, ganhando outro significado quando colocadas em diferentes contextos.
“Balthazar” é o conto mais leve de todos. Ele foi inspirado num passeio que fizemos no parque. Ouvimos uma mulher gritando “Balthazar!” e achamos que esse nome era o máximo. Pensamos que poderíamos falar da idealização de um cachorrinho de raça sobre a liberdade de um cão de rua.
“As irmãs” foi idealizado com uma linguagem incrivelmente delicada e bruta ao mesmo tempo. O mundo de Angélica e Augusta é cheio de desencontros e conflitos que constroem uma realidade muito dura.
AIC – Quanto tempo demoraram para “juntar” todo o banco de palavras?
J.B.: Levamos uns 5 meses para ter um banco de mais de 700 palavras e imagens.
AIC – Como chegaram na FIAT? Como foi apresentar o projeto pra eles?
J.B.: Quando terminamos o primeiro filme, procuramos a FIAT porque Adriano e Murilo trabalham na Leo Burnett, agência de publicidade que tem a FIAT como cliente. O posicionamento da FIAT é “a marca que mais entende de rua” e por isso, fomos atrás deles para vender a ideia do projeto. A resposta da FIAT foi incrível, viram muito potencial no “Contos da Rua” e conseguiram enxergar aquilo além da publicidade. Eles gostaram tanto da ideia que pediram mais. A FIAT acreditou no nosso olhar e entrou como patrocinadora de uma série de curtas. Os filmes foram exibidos em cinemas e hoje também podem ser assistidos no canal do YouTube da FIAT.
AIC – Quem são os diretores que codirigiram os outros curtas?
J.B.: Achei que o resultado ficou muito interessante quando fomos atrás dos outros diretores, pois cada um trouxe uma visão e um tratamento diferente para cada história.Os filmes apresentam linguagens e sentimentos distintos. Sem a direção do Butchers, Fabrício Brambatti e Marcelo Presotto não haveria série. Foi uma escola para todos, pois não havia um processo determinado pra esse tipo de formato. Tinha que ser muito sensível para observar cada detalhe, mas ao mesmo tempo muito perseverante porque era um trabalho danado embaixo do sol. Eu, Murilo e Adriano compartilhávamos com cada diretor o roteiro e um rafe com imagens que pegamos na rua.
AIC – Quem assina a trilha é Antônio Pinto. Como chegaram nele?
J.B.: Adriano já havia trabalhado com Antônio e procuramos por ele para mostrar a ideia do projeto e entender se ele toparia vir conosco. Ele pirou e ficamos muito mais empolgados. Foi uma honra ir no estúdio, estudar e construir a identidade sonora com ele, Antônio foi extremamente espontâneo e criativo. Além de Antônio e sua equipe também pudemos contar com o trabalho maravilhoso de galera da Satélite e do Paulo Akio.
AIC – Conte um pouco sobre o curso de Documentário que fez na AIC.
J.B.: Acho que o projeto que fiz no curso me fez aceitar que um filme nunca sai do jeito que traçamos. É ótimo ter esse pensamento estabelecido, pois você se apega nas coisas certas e deixa o resto fluir. Quando fizemos o “Educandário”, tínhamos três personagens confirmados. Dias antes da gravação todos ligaram cancelando e acabamos mudando tudo de última hora, inclusive o roteiro. Foi a melhor coisa que aconteceu pro filme, porque os novos personagens foram surpreendentes. Eles estavam inteiros ali conosco, foi muito visceral contar a história deles. O imprevisível sempre traz coisas boas.
Assista Contos da Rua: