Retrospectiva em Homenagem a Eduardo Coutinho
O segundo dia da 9ª Semana de Orientação da Academia Internacional de Cinema (AIC) foi uma retrospectiva em Homenagem a Eduardo Coutinho, morto no último dia 02. Considerado um dos mais importantes documentaristas do Brasil e da atualidade, Coutinho fazia um cinema humano, caracterizado por entrevistas e principalmente, pela capacidade de ouvir quem estava em frente à sua câmera.
Julio Wainer e Ilana Feldman foram os palestrantes da noite e tiveram a difícil missão de falar sobre o cineasta. Julio é Diretor Geral da TV PUC de São Paulo, professor e mestre na área de documentário. Ilana, além de coordenar o curso de Documentário da AIC, é pesquisadora, crítica, realizadora e defendeu sua tese de doutorado sobre o documentário contemporâneo brasileiro.
Julio começou mostrando trechos de “Santo Forte” (1999), filme que na época, inaugurou uma nova fase do documentário brasileiro, e faz um recorte sobre a religiosidade de uma favela carioca. “Ao invés de Coutinho mostrar o geral, o macro, ele mostra uma pequena parte. Para aprofundar, é preciso restringir”, comenta Julio que também destacou a postura investigativa de Coutinho, a forma respeitosa como ele entrevistava e ouvia cada personagem e como ele intervia e facilitava a narrativa. “O cinema dele é marcado por três pilares: o respeito, a escuta muito atenta e a metalinguagem”.
Para Ilana, os três filmes, “Santo Forte”, “Edifício Master” (2002) e “Jogos de Cena” (2007) marcam momentos expressivos da carreira do documentarista. “O primeiro é o filme que abre o caminho para o documentário no cinema brasileiro, é um filme onde Coutinho valoriza a entrevista e a micro-história. Já o segundo, “Edifício Master”, a questão tema é estilhaçada, cada personagem fala de si, expressa sua subjetividade, o que importa são as experiências individuais. E por fim, “Jogos de Cena”, que em minha opinião é o ápice da obra de Coutinho, é seu filme solar, que ilumina todos os outros. O filme não tem questão norteadora, nem lastro social para compreensão dos personagens. Temos mulheres em um palco, o confinamento. É um filme sobre o cinema, sobre a própria linguagem, a impossibilidade de identificarmos o que é verdade e o que é mentira”, analisa Ilana.
Ilana ainda destacou a forma como Coutinho se reinventava em cada novo filme. “Apesar de usar algumas estruturas comuns ele jamais se repetia. Ele não tinha medo de se jogar no abismo, ele ia ao limite de cada tema, em cada filme”.
Além da homenagem, os filmes “Edifício Master” e “Jogos de Cena” foram exibidos à tarde no estúdio da AIC.
*Fotos Alessandra Haro e Divulgação