Entenda como aplicar a jornada do herói em produções de audiovisual
O maior motivo de a jornada do herói ter um apelo tão grande é que as pessoas adoram histórias. Essa afirmação parece trivial a cineastas, e também já é verdade aceita por publicitários, jornalistas e outros que dependem do audiovisual para transmitir uma mensagem cativante.
É fato, ainda, que as histórias funcionam melhor quando se desenvolvem segundo estruturas que sejam reconhecíveis pelos ouvintes ou espectadores. A jornada do herói é uma dessas estruturas e, talvez, a mais conhecida delas. Pode ser identificada em obras hollywoodianas, nos quadrinhos e romances da alta literatura, por exemplo.
Neste artigo, você vai aprender como utilizá-la em suas próprias produções audiovisuais, aumentando a identificação do público com as histórias que você conta. Confira!
O que é a jornada do herói
Essa teoria foi baseada em um conceito um pouco mais antigo, cunhado por Joseph Campbell, um célebre antropólogo que se dedicou a estudar as narrativas dos povos antigos e encontrar padrões que as unissem.
Campbell percebeu que uma estrutura se repetia incessantemente nessas histórias, e a chamou de “monomito”. Segundo o estudioso, quase todos os enredos se desenvolvem segundo as mesmas etapas, e cada uma dessas etapas tem uma mesma função narrativa.
O monomito se desenvolveu como teoria, e acabou ficando conhecido como a jornada do herói, que pode ser dividida em 4 estágios bem definidos.
1. A apresentação do problema
O herói aparece aqui pela primeira vez. Ele é apresentado de modo que suas características despertem empatia no telespectador. Repare que isso não quer dizer que ele seja totalmente bom ou perfeito.
Assim como nós, o herói pode apresentar dilemas éticos e comportamento duvidoso em alguns momentos. O essencial, no entanto, é que ele seja humano e esteja envolvido em algo (o problema, propriamente dito).
É esse embate entre um protagonista e um problema que faz com que a história exista. É também essa relação que sustenta a atenção das pessoas até o fim, por meio da curiosidade sobre a jornada do herói.
2. A recusa do chamado
A primeira atitude do herói frente o problema é a recusa. Ele teme, sente-se inseguro ou resolve evitá-lo, fingir que não existe. Em tramas mais complexas, isso pode ter a ver com falhas anteriores, que o deixaram com medo de errar mais uma vez.
Em alguns casos, a recusa é uma necessidade moral. Por exemplo, o herói pode se negar a participar de uma batalha por não acreditar na guerra como maneira de resolver os problemas.
3. Superação e decisão
Algo faz o herói mudar de opinião, no entanto. Em uma trama rica, pode haver algum elemento que cause pressão sobre ele, levando-o a questionar sua primeira opção de se esquivar do problema.
O embate entre esses dois sentimentos acaba compelindo o herói para a sua jornada. Ele resolve enfrentar o próprio medo e seguir — ou aceita a necessidade de algo que condenava moralmente — mesmo que as probabilidades estejam contra ele.
Deve haver uma certa dificuldade na solução desse problema. Essa dificuldade deve parecer (mas apenas parecer) desproporcional às forças do herói, de modo que ele duvide de sua capacidade.
4. A conclusão
O prêmio que o herói recebe pela sua conduta corajosa não é necessariamente a vitória. Pode ser a mudança. Face aos desafios que deve enfrentar, ele se torna alguém melhor do que era, mais resistente, convicto ou realizado.
Repare que o elemento que mais aproxima o telespectador do herói não é vencer a batalha, mas a sua evolução como pessoa. Se a vitória acontece, ela se dá como consequência dessa transformação, muitas vezes tornando o herói mais sábio ou arrazoado.
Como utilizar esse método no audiovisual
No contexto da criação audiovisual, conhecer a jornada do herói facilita muito na criação de roteiros. Você passa a enxergá-los do ponto de vista formal, e isso permite despertar sensações mais intensas no público sem grandes esforços intelectuais.
Abaixo, listamos um passo a passo para você escrever o seu próximo roteiro. Repare que a estrutura já está pronta. Tudo que você deve fazer é preencher com os elementos que a sua criatividade permitir, como numa espécie de template.
Escolha o ambiente da sua história
De certa forma, a luta do herói é contra o meio em que vive. Ele pode desafiar costumes, a opinião pública para viver um relacionamento, entre outros.
Assim, em cenários pós-apocalípticos, por exemplo, o maior problema do herói é sobreviver. Por outro lado, se o ambiente é excessivamente tranquilo e não apresenta adversidades, ele pode ser convidado a lutar contra o tédio, procurando uma vida mais emocionante.
Ou seja, definir o pano de fundo da sua história é o primeiro passo. Aspectos desse lugar vão determinar não apenas o que o herói pensa e pretende fazer, mas também quem ele é.
Pense em um conflito ou situação-problema
O que incomoda o herói? Por que ele deve se colocar em movimento em busca de uma aventura? Se não houvesse um conflito a ser resolvido, ele continuaria no seu lugar de conforto.
O conflito, no fundo, é o motivo de a sua história existir. Ele deve ser forte o suficiente para comover as pessoas, mas deve ser proporcional às forças do herói, que vai resolvê-lo.
Entregue uma mensagem envolvente
Um filme ou história, em geral, não é sobre alguém que pretende fazer alguma coisa e não está conseguindo. É sobre nós mesmos, e a história é uma grande metáfora da nossa própria realidade, por mais surreal ou fantástica que ela possa parecer.
Assim, existe um subtexto, uma camada mais profunda da sua narrativa que vai despertar o interesse do telespectador. Ela forma um pano de fundo emotivo e que é perfeitamente coerente com a natureza humana e a falha do herói.
Estruture um enredo que cative as pessoas
Se você souber estruturar a jornada do herói e, com isso, fizer dele alguém humano, os telespectadores vão se reconhecer. Lembre-se que um enredo que cativa, muitas vezes, é aquele que parece improvável e absurdo.
Isso porque o absurdo está presente no dia a dia das pessoas, e a curiosidade por como alguém comum reage a situações incomuns sempre cativa e causa interesse.
Contar histórias é algo quase tão antigo quanto a espécie humana. E chega a ser curioso notar como esse hábito se manteve por tanto tempo baseado em pressupostos tão simples, não é mesmo?
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Créditos de imagem a Dani Botelho