Curta brasileiro que compete em Cannes conta com participação de ex-aluna da AIC
O curta-metragem “A moça que dançou com o diabo“, de João Paulo Miranda Maria, conta com a participação da ex-aluna do FILMWORKS Isadora Maria Torres, que fez a captação de som do filme. O filme disputa a Palma de Ouro na 69ª edição do Festival de Cannes com outras nove produções de diferentes países.
O filme traz uma releitura contemporânea de uma lenda do interior paulista, contada há mais de cem anos. Na versão adaptada, uma menina vive conflitos que envolvem religião e suas descobertas da adolescência. “O filme é baseado em uma lenda da cidade de São Carlos e esta história se passa dentro de um enredo de festividades católica. A moça age de maneira contrária às tradições da igreja e acaba se envolvendo com um forasteiro conhecido como Diabo. O curta é uma adaptação desta estória, porém com questões muito atuais e discutíveis como política, religião, subjetividade e o fantástico. Acredito que o filme possa assumir um papel provocador na sociedade, em tempos de dualidade e discussões efervescentes”, conta Isadora.
Isadora também conta que seu primeiro contato com o diretor João Paulo foi em uma oficina ministrada por ele no Coletivo Kino-olho, foi lá que ela começou a fazer cinema. “Depois que participei dessa oficina acabei virando integrante do Coletivo e, por conseguinte, comecei a participar de outras atividades do Kino. Nesta época eu cursava o ensino médio e para um trabalho escolar escrevi um roteiro de um curta chamado “Brás Cubas – Delírios” que foi vencedor em um Festival de Curtíssimas da Claro. Foi aqui que decidi estudar cinema e entrei na Academia Internacional de Cinema (AIC). Foi quando percebi que se podia discutir e expressar muitas coisas através do cinema. Eu vi nesta linguagem uma possibilidade e um caminho de organizar as minhas ideias e anseios e me expressar artisticamente”, conta.
O som do Curta
Foi durante o FILMWORKS que Isadora descobriu seu interesse pela área de som, quando se formou e voltou para Rio Claro voltou para o coletivo e começou a trabalhar com Leonardo Bortolin, que assina a Direção de Som do curta.
Leonardo conta que o projeto contou com inúmeras reuniões de pré-produção e que foram nessas reuniões que eles tiveram a ideia de pensar nos sons fora de quadro, com a intenção de ampliar a narrativa fílmica e criar imagens sonoras informativas e independentes da imagem. “O som direto foi muito valorizado, já que a acústica de cada cenografia sonora influencia as interpretações das personagens e informa favoravelmente o espaço sonoro, numa espécie de localização de si e dos diversos elementos fílmicos. O ruído foi encarado como força positiva e inserido esteticamente num sentido deslocado da interferência. O filme traz uma dúvida partindo de uma construção realista, verossimilhante. A todo momento somos tensionados e colocados em questão devido ao teor do próprio enredo e das encenações frias frente à câmera. Também tentamos reproduzir essa dúvida nos sons”, conta.
Festival de Cannes
Este ano o festival acontece entre 11 e 22 de maio e o comitê que seleciona os curtas recebeu 5.008 mil filmes, destes, apenas 10 foram escolhidos para a mostra competitiva.
Além do curta de João Paulo Miranda Maria, outros dois filmes brasileiros estão no Festival. O curta “O delírio é a redenção dos aflitos”, do diretor Fellipe Fernandes, selecionado para a mostra competitiva da Semana da Crítica e o longa “Aquarius”, do cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, que disputa a Palma de Ouro.
O cinema brasileiro muito bem representado. Agora só nos resta torcer!
*Crédito Fotos: Michael Willis