Mostra de Tiradentes exibe Vidas Ausentes , do aluno Ronaldo Dimer
Amanhã (23) começa um dos maiores eventos do cinema brasileiro, a Mostra de Cinema de Tiradentes. Para representar a Academia Internacional de Cinema (AIC) – que não poderia ficar de fora dessa grande festa do cinema nacional – o filme “Armat Jakawinaka – Vidas Ausentes”, do aluno Ronaldo Dimer (que faz o curso de formação em cinema: FILMWORKS).
O curta compõe a Mostra Foco, a única avaliada pelo Júri da Crítica, ao lado de outros 12 filmes. Traz, de forma sutil, um tema polêmico: trabalho escravo e imigração. Conta a história de Rosa, uma imigrante boliviana que trabalha em uma fábrica de costura clandestina em São Paulo e descobre que está grávida.
“O filme foi pensado como uma oração ao silêncio imigrante. É difícil fazer um filme que tenha no seu conteúdo temas como o trabalho escravo, por isso tentamos não seguir por essa linha diretamente. A Rosa, personagem principal, quer continuar vivendo em São Paulo, mas não sabe como conciliar isso com a gravidez, já que o dinheiro que ganha seria insuficiente para manter um filho. Rosa convive com seu colega de trabalho, Alberto, também imigrante e apaixonado por uma brasileira, mas mantém um filho doente na Bolívia. A história se revela através da cumplicidade desses dois personagens que vivem ambos o vazio e a falta de uma outra pessoa. Alberto precisa de Rosa para que sua conquista seja bem sucedida e Rosa de Alberto para resolver seu impasse com a gravidez e a permanência na cidade”, conta Ronaldo que além de dirigir o filme também escreveu a história ao lado do aluno Victor Amaro.
Mais sobre o filme
Produzido no semestre passado como projeto curricular na disciplina de Ficção, a ideia do curta nasceu a partir de um trabalho de pesquisa feito na comunidade boliviana durante o semestre. “Eu já tinha interesse em trabalhar com o conceito de imigrante e estrangeirismo desde que cheguei em São Paulo, acho que é uma condição comum a muitas pessoas que chegam nessa cidade”, conta Ronaldo que saiu do Rio Grande do Sul em 2009 para trabalhar com cenografia em São Paulo, onde começou o seu envolvimento com o cinema.
O filme só saiu do papel graças à colaboração dos amigos e familiares que ajudaram na campanha de crowdfunding. “Também conseguimos muitos apoios para locações e de entidades ligadas a imigração. Mas, a maior dificuldade mesmo foi nas filmagens, que aconteceu durante a greve dos metroviários. Parece até irônico fazer um filme que também trata do trabalho durante um movimento de reivindicações trabalhistas. Isso acabou nos unindo ainda mais para que o filme acontecesse. Foram 3 diárias de muito atraso e tempo perdido em trânsito. No final estávamos exaustos e tensos”, conta Ronaldo.
Ronaldo também faz um agradecimento especial para o professor Cristiano Burlan, que segundo ele, foi um dos maiores incentivadores para que a equipe fizesse a inscrição na Mostra de Tiradentes. “Estou muito grato e feliz pelo filme estar na Mostra. Só de ter o filme exibido para muitas pessoas em uma sala já me deixa muito contente. Mas o que me deixa mais contente é que várias pessoas que admiro estarão lá, junto comigo. O Lincoln Péricles, o Thiago Mendonça, o Marco Escrivão e o Felipe Terra. Todos caras que conheci esse ano e que tive a oportunidade de trabalhar nos seus filmes. Estaremos todos lá assistindo uns aos outros, com os filmes projetados numa tela grande, trocando ideias e discutindo os próximos trabalhos”, conta.
Direção de Arte e Direção de Fotografia
A direção de arte do filme é assinada por Rosângela Ribeiro e pelo aluno Rodrigo Valim. Ronaldo conta que boa parte da ideia de direção de arte acabou acontecendo durante as visitas de locação. “Tínhamos uma referência das cores encontradas no folclore boliviano e também sabíamos que esse universo tinha algo de precário com muita ação do tempo e do desbotamento. A Rosangela Ribeiro foi quem nos deu o maior apoio nessa hora tanto na escolha dos figurinos como na composição do espaço em algumas cenas. Para mim havia uma preocupação maior com os figurinos, já que os personagens trabalhavam com a costura e o objeto principal era o vestido que Rosa produz para o amigo Alberto presentar a namorada, mas, ela (Rosa) que acaba por usá-lo”.
A direção de fotografia também foi assim, nasceu junto com as locações e leva a assinatura do aluno Victor Amaro, com a assistência de Victor Spadotto e a intenção deles era construir uma atmosfera com muita luz fria e sombra.
A Mostra
A 18ª edição da Mostra de Tiradentes começa amanhã e termina no próximo dia 31. Consolidada como a maior plataforma de lançamento do cinema brasileiro independente, a Mostra de Cinema de Tiradentes inaugura o calendário audiovisual brasileiro e este ano apresenta uma seleção de 37 longas e 91 curtas, além de homenagear a atriz Dira Paes e contar com uma intensa programação paralela e gratuita.
“Armat Jakawinaka – Vidas Ausentes” será exibido no dia 27, às 22h30, no Cine Tenda.
Ficha técnica
Roteiro: Ronaldo Dimer e Victor Amaro; Direção: Ronaldo Dimer; Direção de Fotografia: Victor Amaro; Montagem: Carol Castro; Produção: Aline Medeiros; Direção de Arte: Rosângela Ribeiro e Rodrigo Valim; Mixagem: Samuel Gambini; Assistente de Fotografia: Victor Spadotto; Elenco: Veronica Sumi como Rosa; Edgar Villegas como Alberto; Juan Cusicanki como Don Carlos.