O último dia da 12ª Semana de Cinema e Mercado da Academia Internacional de Cinema (AIC) recebeu os ex-estudantes da AIC Alícia Abe, Guilherme Dourado e Leonardo Tovani no painel “Estudantes AIC: O Futuro no Audiovisual”. O painel foi mediado por Carol Cherulli e abordou temas relevantes, como a importância do coletivo no início da trajetória profissional, a percepção sobre o valor do próprio trabalho e a estereotipação de corpos em produções audiovisuais.
Como Conseguir os Primeiros Trabalhos no Audiovisual
Durante a discussão, todos os convidados enfatizaram a importância do coletivo e do apoio dos amigos no início da carreira no audiovisual. Esse apoio pode vir tanto dentro da sala de aula quanto de amigos que acreditam nas suas ideias e trabalhos. Guilherme Dourado, por exemplo, compartilhou sua experiência em Erguida, um curta-metragem dirigido pela ex-aluna do Filmworks Jhonnã Bao, que foi vencedor de três troféus no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Além disso, ele mencionou sua participação em Serra do Arrimo, de Thiago Fischer, que também foi premiado no Filmworks Film Festival.
“Desde que vim para São Paulo, na AIC, encontrei pessoas que acreditaram em mim e no meu trabalho, o que me motivou a seguir em frente. Hoje eu entro em determinadas produções se for pela porta da frente. O mercado tende a querer nos colocar em determinadas posições, mas aprendi que precisamos entender o nosso valor e do nosso trabalho e valorizá-lo”, destacou Dourado.
Por sua vez, Alícia explicou que sua experiência em Erguida como diretora de fotografia provocou um debate importante sobre a presença de pessoas transexuais em produções audiovisuais. Ela comentou: “O filme retratava corpos trans e travestis. E a Jhonnã teve o cuidado de escolher pessoas trans e travestis para compor a equipe. Pela primeira vez, estive em um set composto dessa maneira. Eu sou uma mulher trans operando uma câmera, é raro você ver isso”.
Leonardo, em sua fala, compartilhou que suas produções como estudante na AIC o levaram a conquistar uma bolsa para estudar em um curso oferecido pela Warner Brothers Studio na University of Southern Califórnia. “Lá, eles não avaliavam os trabalhos apenas pelo resultado, pois acreditam que a arte não pode receber notas. No primeiro dia de aula eles explicaram que avaliam o profissional, sua reputação, pontualidade e profissionalismo com os projetos e colegas. Essa experiência me ensinou que é isso que o mercado busca; não basta ter técnica, você precisa ser uma boa pessoa enquanto profissional”.
O Que Estudar Quando Se Está Começando
Durante a sessão de perguntas da plateia, uma aluna do Filmworks I questionou sobre como estudar para o audiovisual além da sala de aula. Alícia ressaltou que o grande diferencial é ter conhecimento sobre o funcionamento de cada área: “Quando você entende sobre produção, direção, arte e elenco, fica mais fácil e assertivo direcionar suas ações. Por isso, recomendo ter uma visão macro e participar de equipes em diferentes funções, pois isso certamente te transformará em uma diretora melhor quando for produzir seu próprio filme”.
Leonardo complementou sua fala: “Muitas vezes, ao conhecer outras áreas, acabamos nos interessando e surgem oportunidades de trabalho nelas. Por exemplo, eu não dirigi meu filme de conclusão; em vez disso, editei a produção de um amigo de sala. Hoje, trabalho como editor e faço parte da Associação de Montadores de Cinema.”
Guilherme também enfatizou a importância do estudo e da valorização do cinema nacional: “Estude filmes nacionais e assista a produções nacionais. O que fazemos é cinema nacional. Você não vai ser respeitado lá fora se não for respeitado e não souber o que acontece aqui dentro. Temos um cinema e produções riquíssimas. Estude diretores, elenco, assista ao cinema nacional!
Motivação para continuar no Audiovisual
Os convidados foram questionados sobre como mantêm o ânimo para continuar em uma área tão desafiadora como o cinema e qual é o momento que percebem que estão fazendo algo que gostam. Tanto Alícia quanto Dourado destacaram que o fôlego vem do coletivo. Eles ressaltaram a importância de ver amigos produzindo e apoiando seus projetos, assim como histórias e temáticas que são significativas para eles ganhando vida e sendo apresentadas em festivais.
Leonardo comentou sobre a importância de equilibrar projetos comerciais, que nem sempre refletem seu estilo ou linguagem, mas são financeiramente rentáveis, com projetos independentes e autorais, onde ele consegue expressar sua visão cinematográfica.
A mediadora, Carol, também ex-aluna do Curso Técnico em Atuação para Cinema e TV e Apresentador Multiplataforma, disse: “A felicidade que sinto quando estou realizando um trabalho específico ou ocupando uma posição que desejava é o que me mostra que estou no local certo. Muitas vezes é cansativo; são horas de intenso estudo e dedicação, mas é um cansaço diferente e quando recebemos um feedback positivo, isso nos mostra que todo o esforço valeu a pena”.
*Fotos: Lucylli Alves